Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 294: Yasmin é baleada e precisa de transfusão


A floresta ao redor da fazenda já não está tão escura e assustadora com os primeiros indícios do amanhecer. Escondido entre as árvores, Vinícius estica o pescoço tentando ver além dos arbustos do jardim. Ele acompanhou quando Malu, Samuel, Brian e Jaqueline fugiram e o tiro e os gritos que se sucederam. Cada vez mais impaciente e preocupado, retorna para trás de uma enorme árvore, onde Nícolas dorme tranquilamente, alheio a tudo que se passa.
   — Que isso acabe logo — ele torce, agachando-se ao lado do corpo inerte da criança. — Por favor, meu Deus. Por favor!

   — Vem aqui, garota! — manda Augusto olhando para Marina. Ela caminha novamente para perto dele, a visão ainda comprometida. — Vocês dois — fala o homem para Anelise e Felipe —, vão pra perto deles!
Os dois saem da passagem para o corredor e se juntam ao grupo perto da porta. De imediato, Felipe sustenta o corpo de Isabela, que parece poder desmoronar a qualquer momento.
   — Agora, ruiva, vem aqui! — Augusto fala com Graziele. — Você é surda? — pergunta com irritação, pois ela não se move. 
Forçando todos os seus músculos, Graziele se arrasta até ele.
   — Vem cá, garota! — Ele urra com raiva, puxando Graziele para o aperto do seu braço. Ele a coloca na mesma posição de Isabela, as costas viradas para o seu peito e a arma apontada para a cabeça dela. — Agora, você — diz para a namorada de Vinícius —, joga o resto da gasolina no corredor. Rapidinho, hein? — Marina assente e se encaminha para o corredor, ouvindo ele falar: — Vou te dar dez segundos. Se você não voltar, eu vou estourar os miolos dessa daqui!
   A morena lança um breve olhar para Graziele e entra correndo no corredor. Mesmo estando em pânico nem cogita a ideia de fugir, pois sabe que Graziele corre risco de vida. Ela tenta fazer o que o pai de Daniel mandou com maior urgência, mas seu corpo machucado não reage da maneira a qual ela gostaria. De longe, consegue ouvir a voz maníaca de Augusto fazendo uma contagem regressiva.
   Graziele chora compulsivamente presa em Augusto. Seus olhos mal conseguem fixar um ponto em sua frente até que o rosto de Thiago ganha destaque. O rosto dele está fechado, mas seu olhar transmite angústia e desespero, embora ao se encontrar com o de Graziele tente passar calma para ela.

Sentindo a bexiga doer de tão apertada, Micael desperta. No entanto, ele se assusta ao ver o corpo de Sophia imóvel e pálido como uma cera à luz do luar.
   — Amor?
Sophia gira a cabeça e olha para ele.
   — Oi.
   — Você está bem? — questiona o cantor reparando nos olhos vermelhos dela.
   — Sim, só não estou conseguindo dormir.
   — Insônia?
   — É, mas o pior é que eu estou com sono.
Ele franze levemente a testa.
   — Não entendi. Você está com sono, mas não consegue dormir?
   — É, parece que algo no meu cérebro não quer desligar.
Micael afaga o ombro dela.
   — Não quer tomar um banho morno? Talvez ajude.
A loira sacode a cabeça.
   — Não, obrigada.
Ele dá um selinho nela e levanta para ir ao banheiro. Sophia permanece com o olhar distante e o coração e a mente inquietos.

Com os dedos trêmulos, Marina sacode o galão no fim do corredor. Seu coração para momentaneamente ao ouvir a contagem de Augusto:
   — Cinco, quatro...
Ela larga o galão onde está e dispara pelo corredor, seus pés tropeçando um no outro e sua cabeça martelando de dor. No último metro do corredor, um grande tropeço faz com que ela caia. O desespero invade seu peito, mas ela constata que seu rosto está no batente da sala.
   — Eu fiz! — grita com urgência. Ela se esforça e fica em pé. — Eu fiz, eu fiz — repete correndo até Augusto. — Por favor, não machuca ela, por favor!
   — Ah, cala a sua boca! — Augusto joga Graziele no chão e com a mão livre acerta um forte tapa no rosto de Marina. Com o impacto, a jovem cai ao lado da ruiva. Elas se olham desesperadas, Graziele chorando descontroladamente e escutam as palavras de Augusto:
   — Sai de perto de mim antes que eu perca a paciência com você.
Marina ergue a cabeça e gagueja sentindo o rosto arder:
   — E-eu?
   — Sai, garota! — berra Augusto apontando a arma para ela. Aos frangalhos, a jovem levanta e vai para perto dos amigos. Felipe rapidamente pega no braço dela e a guia para trás de Thiago e Victor.
   Escondida do olhar doentio de Augusto, Marina abaixa a cabeça e chora, sentindo as reclamações de cada parte machucada de seu corpo. O braço dói, a cabeça lateja, o rosto arde fora normal e o hematoma na altura das costelas torna dolorosa sua respiração. Apesar de tudo isso, é o seu psicológico o mais afetado. Nós não vamos sobreviver ela pensa. Vamos todos morrer aqui, queimados. O sonho do Vinícius estava certo! Vamos todos morrer aqui!
   — Levanta, garota! — Augusto chuta a perna de Graziele, que levanta lentamente. — Pega a caixa de fósforo ali dentro.
   — Não! — exclama Yasmin com horror enquanto a ruiva o obedece. 
   — Quem disse isso? — pergunta Augusto olhando e apontando a arma para o grupo diante da porta. Felipe e Victor se mexem e escondem Yasmin com os próprios corpos. Uma risada alucinada ecoa pela sala. — Estão com medinho, é? — indaga Augusto rindo. — Não adianta vocês tentarem proteger ela não. Ela vai morrer de qualquer jeito. — Ele ri. — Todos vocês vão! 
Com o suor escorrendo pelo rosto, Augusto vira para Graziele.
   — Vai pra perto deles! — Graziele caminha até os outros. — Agora acende o fósforo e joga pro lado. — Ele ri. — Eu quero ver todos vocês se explodindo! — Mais uma gargalha se segue.
   — Não faz isso, Augusto — pede Anelise interrompendo a ação da filha de Larissa e Henrique. — A gente pode morrer, mas você vai com a gente!
Ainda gargalhando, ele rebate:
   — Eu não me importo! Eu não me importo! Não vou conseguir mais nada mesmo, perdi a minha galinha dos ovos de ouro — ele ri loucamente —, ou melhor, meu netinho. — Sua risada cessa abruptamente e ele aponta a arma na direção de Graziele. — Vai, garota!
Tremendo muito, Graziele risca o palitinho na lateral da caixa e após algumas tentativas consegue acender o fósforo. Receosa, ela o joga para o lado. 
   O palito de fósforo cai próximo à janela, distante deles e de Augusto. No entanto, como Marina jogou gasolina em quase todos os metros quadrados da sala, o fogo propaga-se em uma velocidade altíssima. 
   Anelise, Isabela, Felipe, Yasmin, Victor, Marina, Thiago e Graziele se juntam ao máximo que podem para fugirem das chamas. Em um rápido movimento, Anelise olha para a porta trancada e constata que há um pequeno espaço onde Marina não jogou gasolina, logo, que não está em chamas. Contudo, as cortinas que cobrem a porta de vidro começam a se incendiar. Ela volta a olhar para Augusto no instante em que ele diz com um sorriso obcecado:
   — O show vai começar!
    SE ABAIXEM— berra Anelise se jogando no chão e levando Isabela consigo. 
Augusto começa a descarregar a arma na direção deles rindo prazerosamente. 

Nas outras dependências da fazenda, as empregadas Vera e Sandra e os motoristas Ulisses e Evaldo escutam os tiros juntamente com os adolescentes.
   — Ai meu Deus! — exclama Jaqueline com horror. 
Malu coloca as mãos nos ouvidos e repete:
    — Não, não, não!
Samuel fica tão chocado que não consegue nem consolar a morena e Brian não se mexe de pavor.

Com o rosto amassado contra o chão e as pernas encolhidas para fugir do fogo, Anelise olha ao redor e vê que os adolescentes estão deitados igual a ela no espaço até a porta. Um dos lados da cortina queima perigosamente perto de Yasmin, Victor e Felipe.
   Assim que os tiros cessam, Augusto joga a arma nas labaredas e sobe na mesinha de centro para se proteger das chamas, ainda rindo. Thiago ergue a cabeça e em seguida levanta de um salto e chuta a porta. Mesmo não sendo o rapaz mais forte do local, ele coloca toda a sua força somada ao desespero dali e consegue fazer a porta abrir. 
   Seguindo os passos dele, Felipe também levanta e o ajuda a forçar a porta até ela se abrir por completo.
   — Vamos! Vamos! — eles gritam para os outros. Felipe ergue a camisa até o rosto para proteger o nariz da fumaça densa e empurra Graziele e Isabela para fora do casarão. 
   Victor, também cobrindo o nariz com a roupa, fica de joelhos e olha para os lados. Anelise ampara Marina e passa pela porta. Yasmin é a única que permanece deitada, o rosto virado para o outro lado. O loiro rasteja até ela e a vira para cima. Seu corpo paralisa.
   A estrutura da cortina cede e cai pegando fogo, separando Thiago e Felipe de Yasmin e Victor.
   — Victor! — berra Felipe. — Pega a Yasmin, a gente precisa sair daqui!
   — Tá bom! — responde o loiro gritando para ser ouvido entre as chamas. 
Thiago pega no braço de Felipe e o puxa para fora. 
   — Eu disse que ela ia morrer de qualquer jeito — ri Augusto entre tosses.

Aos tropeços, Isabela toma distância do casarão em chamas. Suas pernas estão tão fracas que poucos metros depois ela cai de joelhos na grama. O ar fresco do amanhecer inunda seu pulmão e ela abre a boca para engolir mais e mais. Seus olhos lacrimejam tanto da fumaça quanto do alívio de estar longe do terror de Augusto. Ela ouve os passos dos outros e palavras soltas e olha por sobre o ombro.
   Graziele também está de joelhos logo atrás dela, Anelise fica inclinada respirando ofegante e Marina repousa na grama de olhos fechados. Indo mais além, a jovem enxerga Felipe e Thiago correndo até elas e mais distante... Isabela fica em pé velozmente. 
   Victor carrega Yasmin nos braços. 
   A cabeça da garota está inclinada para trás, seus olhos vagando de um lado para o outro e a boca entreaberta como num grito mudo. 
   Isabela passa correndo por todos e chega até eles.
   — O que aconteceu? O que aconteceu? — pergunta mais apavorada do que nunca. Victor se abaixa lentamente e deita Yasmin no gramado do jardim. A loirinha permanece parada, mas os olhos inquietos. Uma mancha vermelha cresce na altura de seu abdômen. 
   Felipe para ao lado da namorada e leva uma mão à boca.
   — Não! Não! — repete sacudindo a cabeça. — E-ela levou u-u-um ti-iro? — pergunta olhando para a blusa manchada da irmã.
Victor não responde, apenas olha fixamente para a mancha de sangue que cresce progressivamente na barriga de Yasmin.
   Malu, Samuel, Brian e Jaqueline chegam correndo até eles juntamente com os funcionários e também se agrupam ao redor de Yasmin.
   — Yasmin! — exclama Malu. 
A mais velha do grupo, Vera, analisa Yasmin atentamente e vê que ela olha assustada para todos e que as reações dos seus amigos estão deixando ela ainda mais nervosa.
   — Gente, vamos nos afastar — pede empurrando os jovens para trás. — Ela precisa de espaço!
   — Ela precisa de um médico — diz Jaqueline perplexa.
   — Vocês estão assustando ela — comenta Sandra ajudando a senhora. 
Apenas Isabela, Felipe e Victor permanecem ao lado de Yasmin. Os outros se reúnem há alguns passos dela.

Anelise olha assustada ao redor e pergunta para Ulisses:
   — Você está com o seu celular aí?
   — Sim — ele responde e entrega o aparelho para ela. — Nós já ligamos para a polícia e para os bombeiros.
   — Ok, ok — ela diz teclando o número de Bernardo. — A gente precisa avisar a alguém do que está acontecendo aqui. Alô? Bernardo, sou eu! — Ela caminha para longe deles, passando por Marina, que permanece deitada na grama.

Os olhos de Yasmin vagam pelos rostos do irmão, da melhor amiga e do namorado. Felipe não esconde o seu desespero e chora com as mãos na boca enquanto Isabela permanece firme ao seu lado.
   — Fica calma, tá? — pede a morena agachada ao lado da cabeça da loirinha. — Já já o socorro está chegando. Continua de olhos abertos e segurando na minha mão, tá bom?
Yasmin mexe um pouco os dedos que Isabela aperta, mas a ação causa falta de ar nela, que ofega profundamente.
   — Calma, calma, calma — Isabela pede com urgência. — Não faça nenhum esforço. Tenta ficar calma, tá bom?
A loirinha não consegue ver o próprio corpo, mas deduz pelo comportamento de Isabela que seu estado é muitíssimo grave. Victor vai recuando aos poucos até se distanciar da namorada. Ele fica de costas para todos e coloca as mãos na nuca.
   Isabela nota a ausência dele e olha para onde ele está. Yasmin tenta virar a cabeça para fazer o mesmo, mas sua amiga não permite.
   — Sem esforço — lembra. A loirinha fita o rosto angelical da amiga e dá um leve sorriso. Aos poucos seus olhos vão se fechando para o desespero de Isabela. — Não, não, não! Yasmin, Yasmin, olha pra mim! Olha pra mim, amiga! — Sua tentativa de acalmar a loirinha desaparece e ela começa a chorar. — Yasmin, por favor!
Felipe se agacha ao lado da namorada, chorando compulsivamente.
   — Yasmin, Yasmin! Não, por favor! Por favor, acorda! — Ele puxa a mão dela da de Isabela e aperta os seus dedos. — Acorda, por favor! Por favor, por favor!
As súplicas do casal são ouvidas por Victor, que continua parado onde está. 
   Os jovens entram em desespero junto com Felipe e Isabela e são surpreendidos pelo som de hélices.
   — É um helicóptero? — pergunta Graziele olhando para cima. 
Eles erguem as cabeças para o céu, procurando pela origem do barulho que cresce cada vez mais. Enquanto isso, deitada no chão, Yasmin entreabre os olhos, o que gera comemorações em Isabela e Felipe.
   — Yasmin! — eles exclamam ao mesmo tempo. Malu aproveita da distração de Vera e Sandra e rompe a barreira feita por elas, correndo até a loirinha.
   — Ela está bem? — pergunta evitando olhar para a blusa empapada de sangue da amiga.
   — Sim — responde Felipe segurando a mão da irmã. 
   — Não fecha os olhos — pede Isabela. — A ajuda já está chegando!
Um som ensurdecedor atinge a todos e do alto da floresta surge um helicóptero. Alguns recuam com medo, já que ele está muitíssimo baixo, outros acenam por ajuda. 

Diante dos olhos deles o helicóptero pousa, erguendo a terra em frente ao jardim do casarão, que é consumido pelas chamas. 
   César, o braço direito de Daniel, desce do veículo e corre até eles.
   — Vocês estão bem? Cadê o Nícolas? — Seu olhar cai em Felipe, Isabela e Malu, os quais formam um bloqueio para proteger Yasmin da terra. — O que houve? — Ele corre até eles.
   — Ela foi baleada — conta Felipe. — Por favor, ajuda a minha irmã.
   — Calma, calma — ele pede empurrando os três para o lado. — A gente veio aqui para ajudar. — Ele olha para trás e aponta para Samuel e Brian. — Vocês, levem ela para o helicóptero.
Os dois, com muito cuidado, carregam Yasmin até o veículo enquanto César pergunta:
   — Tem mais feridos? Só cabem mais três no helicóptero!
   — A Marina — lembra Graziele olhando para o lado.
   — Alguém ajuda ela — manda César falando rápido. — Vamos, gente! Vamos!
Thiago e Graziele ajudam Marina a se levantar e caminhar até o helicóptero. 
   — Mais algum ferido grave? — pergunta o senhor.
   — Não — Jaqueline responde. 
   — Então eu quero ir com a minha irmã — fala Felipe prontamente. 
   — Ok, vá então!
Isabela chama:
   — Victor! — O loiro continua imóvel e ela corre até ele. — Victor! 
Ele olha para ela. Seu rosto está impassível, os olhos cansados.
   — O que foi? — pergunta com a voz grave.
   — Tem mais uma vaga no helicóptero, você não quer ir com a Yasmin?
   — Não — ele responde de imediato. Isabela é pega de surpresa com a resposta e a rapidez com que ela é veio.
   — Não?
   — Não.
Ela olha demoradamente para ele.
   — Ok. Eu vou então.
A morena corre até César e preenche a última vaga. 

Com olhares ainda assustados, eles acompanham o helicóptero erguer-se no ar e partir. Malu caminha até Samuel e o abraça.
   — Tomara que fique tudo bem com a Yas!
   — Você deveria ter ido — ele fala. — A sua orelha está sangrando.
   — Já secou! — responde a jovem. — Sem contar que era mais importante que o Felipe e a Isabela acompanhassem a Yasmin.
Samuel assente e abraça a garota com força.
   Não se passa cinco minutos e um carro surge em alta velocidade e para cantando pneus em uma parte da área em que o helicóptero esteve pousado. Luíza e Daniel descem e correm até eles.
   — Cadê o Nícolas? — pergunta a psicóloga.
   — O que aconteceu? — pergunta Daniel olhando para o casarão em chamas. — Onde o Nícolas está? E o Augusto?
Anelise não sabe por onde começar e não tem que dar explicações sobre Nícolas pois Vinícius aparece de trás de um arbusto com a criança no colo.
   — Filho! — exclama Luíza correndo até ele. — O que aconteceu? Ele está desmaiado?
   — Não — responde Vinícius entregando Nícolas para Daniel. — Está apenas dormindo.
   — E o Augusto? — pergunta Daniel para Anelise.
   — Ele está lá dentro — a jornalista aponta com a cabeça para o casarão. 
   — Cuida dele — Daniel pede e coloca Nícolas nos braços da esposa. Ele corre até o casarão, causando agitação em todos.
   — Daniel! — chama Luíza em pânico. — Daniel, não! DANIEL!

O engenheiro e arquiteto pula a estrutura da cortina que despencou da parede e adentra na sala que foi cenário do terror protagonizado pelos jovens. Ele cobre o rosto com a blusa e olha para os lados à procura do pai. Tosses vindo da esquerda indicam a localização de Augusto e Daniel corre até o corredor de acesso à cozinha, que não está em chamas assim como o resto da casa.
   — Ora, ora, se não é o meu filhinho querido! — ri Augusto apoiado na parede. Seu rosto está demasiadamente vermelho e brilhante de suor.
   — Olha o que você causou, Augusto!
   — Foi merecido!
Daniel ri sarcasticamente. 
   — Merecido? Tem jovens feridos lá fora, sabia?
   — Claro, eu fiz aquilo com eles! — Ele ri.
   — Como você pôde? — Daniel questiona com indignação, a garganta começando a ficar irritada com a fumaça.
   — Eu queria fazer muito mais, mas não consegui. Queria principalmente, fazer tudo aquilo com o meu netinho. — Augusto ri e Daniel acerta um soco no queixo dele, que perde os sentidos por alguns segundos e escorrega até o chão.
   — Eu tenho nojo de você! Nojo! 
   — Saiba que é recíproco — Augusto cospe as palavras com raiva. — Eu nunca te amei! Eu nunca quis que você existisse!
   — Eu daria qualquer coisa para não ser seu filho! — rebate Daniel. — Você é um monstro! Você poderia ter arruinado a minha vida, sabia? Você poderia ter arruinado a vida desse adolescentes que não têm nada a ver com essa história! — ele grita. — E por quê? O que eu te fiz?
   — Você é um bastardinho! Filho de uma relação ridícula com uma mulher ridí...
   — Não fala da minha mãe! — berra Daniel, os olhos enchendo-se de lágrimas. — Não fala da minha mãe!
   — Ficou tristinho porque não conheceu a mamãe, é? — ri Augusto. — Pois saiba que você não perdeu nada.
   — Cala a sua boca! Você é um bosta, não tem o direito de falar de ninguém, muito menos da minha mãe. — Lágrimas escorrem pelo rosto dele. — Eu nunca fiz nada contra você! Mas assim mesmo você permitiu que a sua mulher arruinasse a minha infância e a minha adolescência. Quando a minha avó faleceu e eu herdei a fortuna dela, você não fez nada para impedir a ambição da sua mulher e quando tomou consciência do quanto eu tinha herdado manifestou interesse também.
   "Eu nunca representei nada para você, né? Eu sempre fui apenas um monte de dinheiro, não é? Você não se envergonha por isso? Querendo ou não, eu sou seu filho! Você nunca se importou comigo, pelo ao contrário, fez de tudo para me colocar no fundo do poço! Se eu já fui um viciado em drogas, a culpa é sua! 
   "Eu tenho sorte por ter conhecido a Luíza, porque se não fosse por ela você teria conseguido o que queria, pois cedo ou tarde eu iria fracassar e você daria um jeito de colocar as mãos na minha herança. Mas saiba que nada disso vai acontecer! Você e a Marisa fizeram pressão psicológica em mim e na Luíza. E não venha me dizer que foi pra vingar a morte da Míriam, não!
   "Aliás, ela era outra! Por muito tempo eu me questionei se era responsável pela morte dela, mas no fim percebi que ele teve o que mereceu. Assim como a Marisa, que ficou louca e assim como você! Porque você não vai escapar daqui, Augusto! Você, que causou tanto mal para mim, não vai sair daqui vivo! Você vai pagar por tudo que fez! Você merece arder no inferno e é isso que vai acontecer com você!"
Augusto ri.
   — E você vai comigo, filhinho.
   — Não mesmo e sabe por quê? Porque eu tenho uma família lá fora que está me esperando! Eu tenho pessoas que me amam verdadeiramente e as quais eu amo, porque mesmo sem ter recebido amor na minha infância, eu sei o que é isso. Você pode ter estragado o meu passado, mas o meu futuro você não vai mexer. Você vai morrer, Augusto, e eu não vou fazer nada para mudar isso. Isso — ele indica o incêndio —, é o que você merece! Agora eu vou fugir enquanto eu posso. Aproveita bem o inferno.
Daniel caminha para a sala em chamas, mas não chega até lá, pois Augusto agarra seu tornozelo e ele cai. Com rapidez, o homem senta sobre ele e fecha as mãos em torno do pescoço do próprio filho.
   — Eu posso cair, mas eu vou te levar comigo!
   — Me solta! — grita Daniel apertando os pulsos de Augusto. — Me solta. — Sua voz vai enfraquecendo conforme seu pai pressiona o seu pescoço. 
   Com um sorriso doentio, Augusto assiste Daniel ir perdendo lentamente a consciência e sente o corpo dele relaxando sob o seu.
   — Não! — exclama Luíza atrás dele. Com um golpe certeiro, ela atinge a cabeça de Augusto com um pedaço de madeira. O homem cai inconsciente ao lado de Daniel, que ofega. — Daniel? Daniel?
   — Eu... tô bem — ele sussurra sem ar.
   — Vem, a gente precisa sair daqui! — Ela segura nos braços dele e o ajuda a ficar em pé. — A cozinha está com muita fumaça, mas não tem fogo. Vamos, vamos!
Apoiado na esposa, Daniel deixa o corredor. Ele olha para trás e vê o corpo caído de Augusto, as chamas começando a se aproximar dele. 

Anelise está andando de um lado para o outro no jardim.
   — Como assim a Luíza desapareceu, gente? — pergunta para todos. — Ela disse que ia até o carro, mas é óbvio que ela não foi pra lá!
Vinícius apenas ouve o desabafo da tia, sentado na grama com Nícolas adormecido em seu colo. Sirenes começam a soar perto deles e no instante seguinte carros do corpo de bombeiros e da polícia param atrás do de Daniel.
   — Graças a Deus! — comemora Jaqueline nos braços de Brian.
Nesse momento, surgem de trás de uma planta próxima a entrada principal, Luíza e Daniel. Eles se apoiam um no outro e tossem bastante. Samuel, Thiago e Brian correm para ajudá-los. Um dos bombeiros corre até eles enquanto o restante da equipe inicia o procedimento para cessar o fogo.
   — Vocês estão bem?
   — Ele inalou muita fumaça — responde Luíza.
   — Eu estou bem — garante Daniel agora com a voz mais firme. 
   — Tem mais alguém lá dentro? — questiona o bombeiro.
Daniel hesita e responde:
   — Não, eu não vi ninguém.
Os outros ficam em choque.
   — Como assim? — Anelise indaga. — O Augusto estava lá dentro!
   — Ele fugiu! — Luíza fala apressadamente. — Eu não vi ninguém também. 
Anelise entra em estado de perplexidade. 
   — Não pode ser! 
O bombeiro se afasta deles para passar a informação aos outros. Luíza abraça Daniel e esconde o rosto no peito dele.
   — Eu estou com medo — confessa baixinho.
   — A gente fez o que era certo — ele fala no ouvido dela. — Tinha que ser assim.

Por volta das nove horas da manhã, todos os adolescentes reúnem-se no mesmo hospital já na capital carioca sob os olhares atentos de César. Marina e Malu estão sendo atendidas no ambulatório enquanto os outros aguardam em uma sala próximo da emergência. O cansaço é evidente, assim como o medo e a preocupação pois ainda não receberam nenhuma informação do estado de saúde de Yasmin.
   Felipe e Isabela estão abraçados com os olhos fechados em um sofá, Graziele, Thiago e Brian permanecem em silêncio em outro, Samuel e Jaqueline conversam baixinho perto da porta, Victor fita o lado de fora através de uma grande janela de vidro e Vinícius fica pensativo em uma poltrona. Cada um vive suas dores e angústias da madrugada e tenta se normalizar da maneira que pode.
   A porta da sala é aberta e uma médica entra.
   — Vocês são os amigos da Yasmin Abrahão Borges, correto?
   — Sim — eles confirmam.
   — É o seguinte, eu vou tentar resumir ao máximo porque nós temos pressa e depois quando os seus responsáveis chegarem uma enfermeira vem aqui explicar melhor o que aconteceu para vocês.
   — Ok — concorda Isabela, em pé assim como os demais.
   — A Yasmin foi atingida por uma bala que atravessou o abdômen dela — conta a médica para o pavor de todos. Isabela leva as mãos ao rosto, Felipe fecha os olhos, Vinícius apoia-se no sofá e Victor continua encarando a doutora. 
   — E aí? — pergunta Thiago.
   — A bala não atingiu nenhum órgão vital — informa a mulher. — O que é ótimo! Mas como demorou o socorro, a paciente perdeu muito sangue. Nós temos um estoque de bolsas considerável, mas pouquíssimos são compatíveis com o sangue da Yasmin e ela está precisando de muito. — Ela analisa cada um deles. — Por isso eu vim aqui convocar vocês para fazer a tipagem sanguínea, pra saber se alguém de vocês é compatível com ela. Caso alguém seja, é importantíssimo a doação porque o estado dela pode se agravar muito caso não ocorra uma transfusão rapidamente.
   — Meu Deus! — exclama Graziele.
   — Teria prioridade — continua a médica — os pais, mas como eles não estão presentes, talvez o irmão seja compatível. Mesmo assim, vamos testar todos os possíveis. Então, quem tem acima de dezesseis anos e cinquenta quilos, me acompanhe, por favor.
   Felipe, Thiago, Brian (que recebeu a tradução de Jaqueline), Jaqueline, Vinícius e Victor deixam a sala junto com a médica.
   Sozinhas, Isabela e Graziele se olham.
   — Estou com medo! — fala a menor começando a chorar. — E se ninguém for compatível?
   — Calma — pede Graziele caminhando até ela. — O Felipe é irmão dela, ele vai ser compatível.
   — A gente estudou isso esse ano em biologia, Grazi, você sabe que há chances dele não ser — choraminga Isabela.
   — Eu sei, mas a gente tem que ter fé.

Na companhia do esposo, Anelise chega ao hospital e vai atrás de César. Quando finalmente o encontra, não tem tempo de falar com ele pois seu celular toca.
   — Oi, Mel.
   — Anelise! — exclama a empresária preocupada. — Finalmente você me atendeu! O que está acontecendo? O Bernardo me ligou mais cedo falando que tinha ocorrido uns problemas graves na fazenda, mas não soube me explicar. 
   — Eu não soube o que dizer — sussurra Bernardo que está bastante perto para ouvir o que Mel diz.
   — Mel, é o seguinte, o Augusto descobriu que o Nícolas estava na fazenda, foi até lá e causou muito terror em todos. — Os olhos dela ficam marejados ao lembrar do ocorrido. — O casarão pegou fogo e a Yasmin foi baleada!
Mel entra em pânico.
   — O que você disse, Anelise?

Minutos depois, enquanto Mel prepara-se para contar o ocorrido para Sophia e Micael, no hospital, finalmente todos os adolescentes se reencontram, por exceção de Yasmin, obviamente.
   Vinícius e Marina não trocam uma palavra sequer, pois eles entendem a amplitude e a relação de tudo o que aconteceu com os sonhos dele e sabem que não é o momento certo para conversar sobre isso. Ele apenas faz carinhos na mão dela, que repousa a cabeça no ombro dele. Depois de Yasmin, ela foi a que mais se machucou nas mãos de Augusto.
   Também assistida pelos médicos, Malu já se sente um pouco melhor.
   — A gente ficou sabendo sobre a Yasmin — fala rompendo o silêncio da sala. — Vocês também fizeram coleta de sangue?
   — Sim — confirma Felipe. 
   — Vocês fizeram lá no ambulatório? — pergunta Graziele.
   — Fizemos. A enfermeira até mandou a Marina se pesar, porque não acreditou que ela tinha mais de cinquenta quilos — ela dá um leve sorriso.
   — Eu disse que eu tinha cinquenta e um — resmunga Marina. Em seguida ela olha para o irmão, que está apoiado na parede com as mãos nos bolsos e o olhar pregado no chão. 
   — Não é possível que nenhum de nós seja compatível com ela — comenta Samuel.
   — A enfermeira disse que a probabilidade é pequena — conta Jaqueline. — Ela explicou lá, mas eu estava tão tensa que não entendi.
Malu revira os olhos.
   — Se você tivesse prestado a atenção a gente poderia entender qual é o tipo sanguíneo da Yasmin e ver qual pode doar para ela por causa da aglutinina e aglutinogênio. 
   — Eu não entendo disso.
   — Se você prestasse atenção na aula de biologia entenderia.
   — Gente, para — pede Vinícius. — O momento não é pra isso.
Assim que ele termina de falar, uma enfermeira entra na sala e todos levantam, menos Marina porque o movimento causa dores em suas costelas.
   — E aí? — pergunta Felipe com ansiedade. — Algum de nós é compatível com a Yasmin?
Victor ergue os olhos e encara a funcionária intensamente.
   — Sim — ela responde e eles ficam animados e aliviados. — Apenas uma pessoa. — Ela confere o nome. — É... Marina Blanco Aguiar. 


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  1. Ainda bem que o Augusto morreu e que quase todos saíram "bem" de lá. A Yas vai ficar bem, ela tem que ficar! Acho que o Victor está em choque. A Marina que foi compatível, acho que isso vai servir pra que quando a Yasmin fique boa elas fiquem mais próximas e quem sabe, bem amigas. O capítulo está incrível! Parabéns.

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    1. O Augusto causou provocou tristes lembranças em todos, né? A saúde da Yasmin está debilitada, será que ela vai se recuperar? A Marina foi a única que passou no teste de compatibilidade, coincidência ou destino? Muuito obrigada =)

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  2. Nossa o Victor nem chorou por causa da Yas, coitado do Felipe ele ficou desesperado!! Sempre se superando né Re?! Eu simplesmente sou viciada nos seus imagines, mesmo sabendo quais os dias que você posta eu entro todos os dias pra ver se você postou!

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    1. O Victor sempre surpreendendo a todos com suas reações (ou ausência delas), né? Tadinho, o Felipe desesperou-se ao ver o estado da irmã :(
      Fico muuito feliz que você acompanhe o Imagine *-* Obrigada!!

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  3. Re, a Yas é minha personagem preferida... juro para você que estou chorando!
    Por favor, posta o eventual de domingo!

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  4. Como assim ai mds a yas tem que ficar bem

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